Semana passada fui a São Paulo, onde passei cinco maravilhosos dias com uma amiga queridíssima. Vi cobras, comi o melhor brownie da minha vida na Bella Paulista, comi sushi, cantei num karaokê na Liberdade, fiquei bêbado, fiquei doido, fui numa boate rock e até num puteiro na Augusta.
Foi depois de perder-me no pecado naquela cidade; quando voltei nesta da que tanto gosto, Brasília, que recebi Jesus no meu coração!
A Mirna, uma amiga, teve a gentileza de buscar-me no aeroporto. No percurso à minha casa na Asa Norte, passamos pela Igreja Universal do Reino de Deus. Uma vez que tinha muitos carros ali e dada a minha curiosidade por conhecer aquele culto fanático, disse à Mirna: “Ó, vamos na igreja universal!”. Ela olhou com aquela cara de quem não acredita no que acabou de ouvir, mas eu confirmei: “É a serio, vamos mesmo!”.
Combinamos uma historia: caso tivéssemos que falar qual o nosso problema, o que levava-nos procurar a ajuda de Deus, queríamos um milagre - éramos primos, apaixonados, querendo casar, mas a nossa família reprovava aquele ato incestuoso. E procurando a bênção do Senhor para o nosso sincero e puro amor, entramos no templo.
A princípio, aquilo tinha a cara de um culto normal, pessoas reunidas e um cara a ler a biblia e explicar ao pessoal o que aquilo significava. O bispo, como ele gostava de chamar a si mesmo, era um homem novo, bem vestido, que lia e interpretava a palavra de Deus com muita veemência e paixão. Apelava ao mais profundo do coração das pessoas, àqueles problemas que não os deixam dormir e chamava-os a serem fortes e entregarem toda a sua fé para aquele ser onipotente, que não ia deixar nenhum dos seus filhos sozinho.
Depois começou a música ao vivo e o bispo fez alarde de seus dotes musicais cantando para a patuléia e animando todos a bater palmas e cantar junto. Eu, não conhecendo as letras, vi-me sem chance de cantar, mas ninguém tirou-me o gosto de bater palmas e dançar ao som de temas como “Jesus me ama” e “Deus é o meu salvador”.
Cabe dizer que o templo era lindo. Palco grande, cenografia cara, boa iluminação e ótimo som, invejável para qualquer teatro da Broadway.
Quando terminou o intervalo musical começou a parte interessante: luzes apagadas e pequenas lâmpadas que brilhavam no teto como se fossem estrelas. “Irmãos, dia dezoito de março será o dia da libertação, será comemorado em toda igreja universal no mundo! É o dia em que vocês podem mostrar a Deus que querem vê-lo na sua vida! Quem já tiver gastado muito dinheiro tentando resolver um problema que os homens não conseguiram, mostre a Deus que realmente quer vê-lo na sua vida! Quem quiser ver Deus na sua vida, receber Jesus no coração, deverá escrever o seu problema num papel e colocá-lo num destes envelopes! Quem realmente estiver precisando de um milagre tem que mostrar a Deus! Coloque o seu sofrimento no envelope junto com a sua doação! Quem for doar dez mil reais ou mais venha agora, dez mil reais ou mais! Cinco mil reais ou mais! Quem vai dar cinco mil reais ou mais venha tomar o seu envelope agora!” Cinco mil reais ou mais...
O que eu vi nesse dia? Uma turma de pessoas de cérebro lavado a doar grandes quantidades de dinheiro a alguém que conseguiu convencê-los que financiar transas com garotos de programa vai resolver todos os seus problemas.
E eu aqui estudando engenharia... Melhor começar a minha igreja, e aí sim vou viajar o mundo inteiro.